As pessoas falam sobre o terror primitivo, algo como o mal em sua pura essência. Muitos pensam em criaturas, seres sobrenaturais, monstros ou alienígenas. Outros pensam no desconhecido que paira em cada esquina como um fantasma, se escondendo nas sombras a espreita. Não sei o que seria o mais aterrorizante de tudo, o que unanimamente podesse ser a encarnação do próprio medo, o mal em sua gênese e síntese. Mas tenho o meu palpite.
Seria algo que num determinado dia pela manhã você o sente. Não como algo assustador, mas sim como um leve incômodo, como um mal estar passageiro, como um pequeno ponto negro em sua alma. Algo que lhe incomodasse como um espinho ou uma unha encravada, pequeno demais para ser levado a sério, mas grande o suficiente para se tornar intermitente durante o seu dia.
E no dia seguinte ele seria um pouco maior, se tornaria aquela dor de cabeça constante, aquela mancha preta na sua camisa branca. Cresceria como um tumor, avançando sobre a sua felicidade. Roubaria parte do seu sono, seria o zunido baixinho e constante que te acompanharia durante todo o seu dia. Aquela pedra no seu sapato, impossível de sair. Como uma ferida aberta e ardente. Aquele espetar da agulha, um incomodo que não cessasse.
E passado mais um dia, ele avançaria, seria como uma ânsia sem fim. Um espaço vazio em sua alma, algo comendo tudo pelas bordas. Neste dia você saberia que era um caminho sem volta, mas mesmo assim não acreditaria. Seria como receber a notícia de uma doença terminal. Um negrume avançando, acabando com seus sonhos, minando o seu sono e a sua paz. Seria aquele anzol enfiado na pele, suficiente para causar dor e ao mesmo tempo desespero. Algo invadindo o seu amago, tomando as suas veias, uma a uma. Um sangue negro trespassando o seu corpo. Como uma amarra lhe prendendo por dentro.
Logo mais ele já seria grande, grande o suficiente para ser um desespero continuo, uma agonia como a morte mas que chega devagar, que vai roubando um a um os seus minutos, a sua vida, a sua esperança. Seria a fina folha de papel cortando a carne, em cortes tão finos e tão profundos que nunca mais cicatrizariam, seria o eterno sangrar. As gotas pingando pelo chão. Aquela coisa como estar vivo e sentir o corpo apodrecendo, o cérebro se liquefazendo. Seria a putrefação do corpo e da alma e a conciência de tudo isto.
E mais um dia ele já seria maior do que o que restou de você. O torrão de açucar no formigueiro, sendo devorado pedaço por pedaço. Um círculo negro te envolvendo. Seria a agulha fina entrando em seus olhos, e cortando os seus músculos. Os pedaços da carne do seu corpo caindo pelo chão. Você saberia que não há mais saída e nem esperança, porém também não há o fim. Seria o eterno agonizar. Uma piscina de vinagre lambendo as suas feridas abertas. Você poderia sentir o fogo queimando as suas entranhas, fundindo as partes do seu corpo. Um estranho dominando as suas ações. São os seus olhos que testemunham a ação deste estranho, são suas pernas se movendo contra a sua vontade. Mas a dor, a dor, ela continua só sua.
E por fim, você, desaparecendo, confinado a um ponto branco, a estrela solitária num mar escuro de um céu. A eterna gota pingando da torneira que não vai se fechar. Sozinho, apenas observando, observando o mal agir em seu nome, matar a sua família, fazer sexo com o seu amor. Invadindo e destruindo o que é seu. Magoando a cada amigo, mentindo, roubando, violentando, subtraindo cada pedaço de felicidade. E você inerte, aprisionado, como um ponto branco dentro de seu próprio corpo, sozinho e com toda a sua dor.
E você está lá em mais um dia, e mais outro, e mais outro, e mais outro, e mais outro, e mais outro...
terça-feira, 7 de julho de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário