segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Expedição: 12, 13, 14 e 15 de janeiro

A viagem até San Pedro do Atacama não foi muito boa. Primeiro problema, estavamos todos nós nos sentindo mal. Acho que sair dos 5.000 mts de altitude, descer ao nível do mar, e voltar aos 3.500 mts no espaço de poucas horas não é algo muito recomendado a ser feito. No entando ainda estavamos suspeitando da comida...

A viagem de Arica a San Pedro é bem chatinha. A gente para algumas vezes no trajeto para controles. Que me desculpem os chilenos, mas a fiscalização é um porre, e os postos policiais cheios de preconceitos. Você acredita que pediram pra Ana descer sozinha só porque ela era brasileira. E a maioria dos peruanos e bolivianos sofrem muito preconceitos, houvi histórias até de retenção ilegal de passaportes e documentos de identidade. Para um país que se diz tão civilizado eles deveriam mesmo é ter vergonha de tamanha estupidez.

Durante a viagem, a Betinha passou mal realmente, e chegou branca (mais branca ainda) em San Pedro, tanto que estavamos todos preocupados, e não sabiamos ao certo como faríamos pra seguir para a nossa próxima parada (Uyuni - Bolívia).

Já estavamos um dia atrasados no nosso intinerário, e estava buscando loucamente algum tour que pudesse fazer a travessia do deserto em 2 dias. Mas ou se fazia o translado de 1 dia que é basicamente o transporte sem parada alguma, ou, para visitar os ponts turisticos, há de se fazer os 3 dias. A terceira alternativa é ser milionário e contatar um tour particular que custa uma fortuna.

Bem, como havíamos chegado cedo, tinhamos tempo pra conhecer a cidade, que é a réplica perfeita das cidades do velho oeste dos desenhos do Pica-Pau, muito louca, cheio de casas de pedra, ruas estreitas e areia, muita areia.

Durante a tarde acabamos por levar a Betinha no médico, e batata, ela estava com o tal do mal de altitude (o marvadão), e teve que ficar no Pronto-Socorro tomando oxigênio (a oxigenação dela estava em 92% quando o normal é estar em 100% ). Eu e a Ana estávamos a base do santo remédio, o chazinho de coca, mas a Betinha tinha mal estar psicológico só em ver a folhinha de coca, tanto que quando saimos a noite pra comer alguma coisa antes de começar a travessia do deserto, para o nosso desespero, a Betinha desmaiou, só em tentar mascar um pedacinho de folha.

Fui uma experiência a la "O Exorcista", a Betinha passando mal e desmaindo enquanto eu tentava levar ela pra fora do bar. Impressionante como uma pessoa com os seus 50 e poucos quilos pode de repende pesar mais de 100. Graças ao bom Deus que apareceram do nada uma enfermeria e praticamente uma equipe médica inteira e a Betinha ressucitou.

A nossa cabeça estava a mil, já que no dia seguinte logo as 8hs da manhã haviamos comprado o tour para atravessar por 3 dias o deserto do Atacama, um programa excelente para quem estava mais branca que o salar.

Mas Deus estava por nós, e a Betinha se levantou melhor e achou melhor seguir viagem.

Pegamos uma tal Paloma tour junto com um casal de colombianos e um japonês muito louco, além de um motorista boliviano bastante malandro e a cara do Ligeirinho.

O primeiro dia de tour foi uma droga. Aliás, a Paloma tour é uma droga completa e tivemos que nos pronunciar para que o tour inteiro não fosse um desastre. No final, apesar da porcaria da agência, foi bem divertido.

No primeiro dia fazemos uma série de lagoas (a laguna azul, a laguna verde e vemos a laguna colorada) além de visitarmos os Geysers e as termas. O deserto é fantástico e todos os lugares são lindos. O problema do primeiro dia é que ficamos muito pouco tempo em cada um dos lugares, e depois que fomos descobrir o porquê.

Estavamos com o carro mais velho de todo o deserto do Atacama, e ousaria dizer que um dos mais velhos de todo o Chile. E o nosso motorista não queria ficar muito tempo em cada parada por dois motivos: 1) O carro quebrar e náo ter ninguém depois dele para nos socorrer, 2) Porque a agência não tinha feito reserva no alojamento e corríamos o risco de encontrar o lugar lotado.

Assim, chegamos as 14hs no alojamento e o programa do primeiro dia tinha acabado. Eu fiquei puto! Mas como não tinha saco pra ficar a tarde inteira no acampamento, acabei fazendo até que inconscientemente uma das caminhadas mais loucas de minha vida: 3 horas de caminhada no deserto.

Na verdade, como náo haviamos nos aproximado da Laguna Colorada, pensei em ir caminhando até lá pra dar uma voltinha. A Ana também achou uma boa idéia e quis me acompanhar. O problema é que a laguna é enorme, e de onde estávamos achavamos que era pertinho. A Ana, depois de 30 minutos de caminhada desistiu e resolveu voltar. Eu como sou teimoso como pedra, resolvi seguir viagem.

Na ida, tudo bem, consegui até pegar carona com um off-road que apareceu do meio do nada (se eu fiquei espantado, imagina os caras que me deram carona, que encontraram um louco andando no meio do deserto). Assim, economizei uns bons 40 minutos, fazendo o trajeto de ida em pouco mais de uma hora.

O lugar é de outro mundo! A laguna cheia de flamingos e cores exóticas nos faz pensar que estamos em Marte ou coisa do gênero. O problema foi caminhar a volta para o refugio. O vento estava contra, o sol estava de rachar, o terreno é todo irregular, e a areia tenta desviar-se dos óculos pra tentar entrar bem no meio do seu olho. Uma sensação continua de desconforto. Me senti naqueles filmes de legionário atravessando o Saara. Enfim, a minha própria travessia do deserto.

No segundo dia de deserto, a coisa melhorou. Como xingamos o motorista por termos ficado a tarde inteira de bobeira no albergue, e ele explicou as razões dele (e a verdade veio a tona) entramos em um acordo, que não seríamos os últimos, então tentaríamos não ficar muito tempo enrolando nos lugares, mas ele nos deixaria mais tempo em cada um dos atrativos. A coisa funcionou bem. O roteiro do segundo dia passa pela Laguna Colorada, a Árvore de Pedra, e mais uma série de lagoas muito bonitas. O próprio deserto é um show em si.

E a aventura foi maior para nós que a cada parada ficávamos naquele drama de abrir o capo enquanto o motorista que também era mecânica ficava a cada parada trocando ou mechendo em alguma peça do nosso carro. Toda hora tinha impressão que o carro ficaria por ali mesmo. rsrs

O final do segundo dia é num hotel de sal. Isto mesmo, ficamos hospedados, agora num local que tinha direito a banho e tido (o refúgio não tinha chuveiro), num hotel feito com tijolos de sal compactado. Mais do que isso, além das paredes, as camas, as mesas e cadeiras eram todas feitas de sal. Muito bacana.

Pela quantidade de sal, vocês já devem ter presumido o óbvio, estávamos ao lado do Salar de Uyuni, que seria o nosso próximo passeio.

No terceiro dia, a viagem é pelo Salar, e ouso dizer que o Salar de Uyuni é a paisagem mais bizarra que eu já vi em toda a minha vida. Imaginem vocês um salão feito de mármore branco, agora imaginem um salão de mármore branco infinito. Isto é o salar. Pra todo lado que você olha existe sal, placas de sal, num brancor de doer os olhos!!! Estavamos literalmente num mar de sal.

As fotos são fantásticas, mas não conseguem nem de perto traduzir a beleza do lugar. Me senti num sonho, ou num filme de Lars von Trier. Primeiro visitamos um outro albergue de sal, o mais famoso e bonito do lugar. Depois seguimos para a Isla. A Isla é uma ilha de terra bem no meio do mar de sal, e o nome é super apropriado, porque temos a nítida impressão que estamos numa ilha. Um lugar maravilhoso.

Por fim, passamos num lugar para ver artesanatos e chegamos a palpérrima cidade de Uyumi. De lá vamos ao cemitério de trem, um lugar bem bacana cheio de trens enferrujados e voltamos a cidade para aguardar o nosso ônibus supostamente para Sucre.

Ao chegar na cidade de Uyumi, para nossa felicidade descobrimos que: 1) Não haviam mais ônibus direto para Sucre, 2) A nossa agência, expetacular que era, ainda não tinha providenciado as passagens, apenas reservado, 3) Para comprar água gelada na cidade é preciso encomendar de um dia para outro. Enfim: Sensacional.

Após muita insistência de nossa parte conseguimos (e demos graças a Deus por isso), 3 passagens num cata-louco e seguimos viagem até Potosi. Apesar do ônibus vir completamente lotado com pessoas de pé e sentadas no corredor, colocando produtos e bebês no seu colo, naqueles típicos filmes que mostram a pobreza da região, pior seria ficar preso na cidade de Uyuni por mais um dia. De qualquer maneira, haviamos atravessado o deserto, voltávamos a nossa querida Bolívia e seguíamos finalmente para casa.
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