terça-feira, 18 de maio de 2010

O homem que gostava do vento

E o vento chegou, faceiro, matreiro, mostrando seu facho, apagando seu rastro,
Chegou como quem não quer, quem não sabe, quem não fica até tarde
Como o sopro divino, entoando a lembrança do que se havia esquecido
De que o pulso ainda pulsa, que o susto ainda assusta

E o vento chegou, ligeiro, zombeteiro, brincando de lado, fingindo o diabo
No fundo um anjo, recém encarnado, que não quer ficar por ter medo de amar
O medo ingênuo de que se ficar deixará de ser vento e não poderá nunca mais soprar

E o vento chegou em veraneio, fogueteiro, saiu do céu e do mar
Se soubesse que o vento não deixa de ser vento, por parar de soprar
Nem só de sopro ele vive, mas de afago, como brisa ao luar

Se o vento é brisa ou temporal, se é afago ou ventaval,
não é coisa coisada, escrita em pedra afinal,
mas sim uma escolha, algo querido, decidido, batalha vencida, destino, ou a busca, etérea, por um ideal.


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