domingo, 31 de janeiro de 2010

Expedição: Caminhada Salkantay - Dia 5 - 08 de janeiro de 2010

3 e meia da manhã. Foi esta hora que eu acordei pra fazer o último dia de minha caminhada em direção a Machu Picchu. Dormi pouco, mas como tinha economizado meio dia de caminhada no dia anterior, estava com a energia toda. Tinhamos marcado de nos encontrar as 4:20 na praça de armas da cidade.

Eu fui o primeiro a chegar, as 4:10, aproveitei pra tomar um café expresso quentinho que uma loja vendia, e confesso que me sentia ótimo. As bolhas estavam bem protegidas com uma espécie de segunda pele. Um curativo novo e muito bom que a Ana tinha levado e havia me dado.


As 4:25 começamos a caminhada com todos. O clima era de uma maratona, sabiamos que tinhamos que ser rápidos para chegar antes dos ônibus e assim garantir nosso lugar. Antes de nós já haviam partido várias pessoas e a trilha começa.


Logo estavamos num breu total, e o guia não nos acompanharia. Assim teríamos que confiar em nossos instintos, na marcação da trilha que era muito boa e nas nossas super lanternas. Me sentia numa corrida, porque todos andávam rápidos e queriamos chegar o quanto antes. Seriam 1 hora e meia de caminhada, toda ela em subida ingreme, bastante ingreme.



Saimos num pelotão, eu estava no pelotão de frente e disposto a fazer um bom tempo... O caminho começa plano, mas logo se transforma em uma coisa só, uma escada infinita até o céu... As escadarias são uma coisa absurda, degraus imponentes, grandes o suficiente para dificultar a subida. E o que fariamos depois dos 15 minutos iniciais de trilha seria só subir.



No final tinha a impressão que a escada não acabaria nunca, e a manhã daquele dia começava chuvosa e nublada, então para piorar não sabiamos quão longe estavamos do pico... Mas como disse estava com a energia toda, e subi aquelas escadas em ritmo frenético. Estava ultrapassando todo mundo... Do nosso grupo de caminhada eu estava bem a frente. Na minha frente apenas o Dor, com seus 18 anos e seus 1,90 mts de altura, e o Edwin, que vinha logo a minha frente.


Fizemos o percurso em tempo recorde, um pouco mais de 1 hora, quando cheguei a entrada de Machu Picchu estava uma catarata de suor, mas numa felicidade sem fim. Depois do meu último degrau não tive dúvidas. Soltei um urro de felicidade. Eu estava lá, a porta da entrada do Machu Picchu, e pelo número de pessoas a minha frente eu iria sim a Waynapicchu !!!

Peguei a senha 279 para o horário das 10-11, tudo perfeito. As meninas que vieram de ônibus depois, não tiveram a mesma sorte, as senhas haviam acabado, para elas não teria Waynapicchu.

Macchupichu é uma cidade de pedras. Um lugar sagrado. Imaginar-se no tempo no meio da civilização inca é uma coisa impossível de não se fazer. O local é enorme e há varias construções interessantes.

Há 3 divindades principais, a Serpente, o Puma e o Condor. A Serpente representa o mundo dos mortos, o submundo, o passado. O Puma representa o mundo presente, as coisas, a realidade. E o Condor o mundo do amanhã, o futuro, as possibilidades... Estava encarnando o Puma, vivendo o presente com toda a intensidade, e vislumbrava o Condor, sem me preocupar tanto com a Serpente....

As 10, estava na fila para subir a Waynapicchu, eis quando surge a Betinha toda feliz, ela tinha conseguido um bilhete para subir com a gente com meu amigo argentino Pablo, que na verdade só queria sombra e agua fresca.... Infelizmente a alegria dela durou pouco, como o bilhete com a senha estava muito encharcado, e desgrampeado do bilhete de entrada ao sitio arqueológico, o idiota do guarda o julgou como falso e proibiu a entrada da Betinha, uma injustiça tremenda, além de uns episódios mais tristes de toda a viagem.

Eu estava com o tempo contado, deveria subir e descer de Waynapichu até no máximo as 12:30, porque deveria pegar o ônibus de volta a Aguas Calientes, pagar o albergue e correr para o Ferroviária para pegar nosso trem as 14:00 já que tinhamos um ônibus no mesmo dia para Arequipa as 20:30 em Cuzco... uma loucura.

Subi as impressionantes escadas de Waynapicchu animado, apesar de um pouco cansado. A subida é incrível. Uma escada irregular, com trechos estreitíssimos e um abismo de mais de 1.000 metros ao seu lado. Nem preciso falar como me senti tendo o medo de altura que eu tenho... rrsr

A vista de cima de Waynapicchu é uma coisa indescritível, ainda mais porque o tempo abriu e o céu estava lindíssimo. Infelizmente, como a Betinha não subiu, eu não tenho fotos, apenas um vídeo do lugar, e posso garantir que a subida vale todo o esforço.

Quando desci, por volta das 12:20, não poderia deixar de contar com um pouco de aventura. Primeiro, Macchupichu é super bem sinalizada para quem entra, mas é quase impossível achar a saída daquele lugar. Eu já estava ficando quase louco. Eu tinha pensado que havia marcado com as meninas de nos encontrar no ponto de ônibus por volta das 13:00. O ônibus levava um pouco menos de 40 minutos para Aguas Calientes e teríamos 20 minutos para pegar as malas no albergue, chegar na Ferroviaria (5 minutos a pé do albergue) e tomar nosso ônibus.

Consegui chegar lá fora as 12:50.... quando cheguei... cadê as meninas? Não encontrava elas em lugar nenhum. As pessoas que conheciam me dizia que elas também estavam atrás de mim, mas já fazia muito tempo que eles não as viam... Fiquei esperando até as 13:20, meu tempo limite para não perder o trem.... Depois disso peguei o ônibus e fui a Aguas Calientes. Eu estava tão cansado que dormi no trajeto e tive que ser acordado no ponto final.

Quando dobrei a esquina da praça de armas já vi a Ana desesperada me acenando do Albergue... Elas tinham saído sem mim, imaginaram que eu já havia retornado. Uma loucura. Tivemos que entrar no quarto de baguagem pra resgatar as nossas malas, já que na hora que chegamos no nosso albergue não havia ninguem para nos atender, e saimos feito insanos em direção a Ferroviaria, já que eram praticamente 14:00 .

Nisso o cara do albergue nos alcança para me devolver minhas roupas que havia deixado na lavandeiria e obviamente cobrar pelo serviço... Foi uma sorte, se não, teria perdido uma boa leva de roupas. Chegamos na estação e havia um cara aguardando por nós (nada como ser VIPs...) o trem nos esperava, estava atrasado e a gente era obviamente os últimos.

Nunca corri tanto na vida, e de fato, este bilhete de trem que nós pegamos era o máximo. O vagão tinha o seu teto feito em vidro e podíamos ir apreciando o trajeto por todo o caminho. E melhor, eles serviam bolachinhas e refrigerantes. Pra mim que não tive tempo de almoçar e nem de tomar café da manhã direito me sentia no paraíso.

Chegamos em Cuzco eram quase 18:00. Tivemos um tempinho para descansar um pouco, fazer as últimas compras e seguir para a Rodoviária. Naquela noite seguiríamos para Arequipa para a parte final de nossa viagem.

Machu Picchu foi uma experiência fantástica, em si, e por coroar o último dia desta caminhada incrível que foi o caminho de Salkantay, algo que tenho certeza que nunca esquecerei.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Expedição: Caminhada Salkantay - Dia 4 - 07 de janeiro de 2010

Quarto dia de caminhada. Acordamos tarde já que este seria um dos dias mais tranquilos de todos. Estávamos no povoado de Santa Teresa, e depois do tradicional café da manhã, seguimos a pé até o centrinho da cidade e de lá seguimos em direção a usina hidrelétrica de Machu Picchu.

Geron, se divertindo com nosso novo companheiro no café da manhã

Por conta das bolhas do dia anterior adotei a estratégia de fazer apenas meio dia de caminhada (a parte da manhã era mais tranquila), a parte da tarde faria o trajeto de trem, já que não queria de maneira alguma colocar em risco a minha subida a pé para a cidade inca de Machu Picchu e a minha subida a montanha Waynapicchu no dia seguinte.

O povoado de Santa Teresa.

A caminhada na manhã do quarto dia era realmente tranquila, mesmo com o pé cheio de band-aids para a minha coleção de bolhas, e sem a minha ex-bota, não tive dificuldades em fazer a primeira etapa com o meu super papete e meias, meu único calçado a partir de então.

Nossa primeira parada do dia, uma deliciosa cachoeira

Uma pena que tive que decidir um dia antes a minha ida de trem na segunda parte do trajeto, hoje acredito que não teria problemas em fazer a segunda metade (pelos trilhos) também. Falando nisso, ouvindo os noticiários da situação das enchentes na cidade de Aguas Calientes e do transbordamento do rio Urubamba é que percebo quanto Deus estava conosco por toda caminhada. Estar ilhado em uma caminhada no meio do nada não deve ser uma sensação muito agradável!!!

Tá bom, tá bom, agora eu sei que não devíamos ter deixado a torneira aberta...

Para almoçar chegamos em um restaurante nas proximidades da usina de Machu Picchu. Esta seria a minha primeira separação dos meus companheiros de caminhada. No almoço me juntei ao Pablo e a Jenniffer, desistentes do 1º e 3º dia, que também iriam tomar o trem.

O Rio Urubamba

Eu aproveitei o tempo livre e a hidrelétrica que estava ali do lado para trabalhar. Acabei fazendo uma visita não planejada a hidrelétrica de Machu Picchu, onde foi muito bem recebido pelo engenheiro Ronald e conheci a interessante usina, a única que conheço que tem desenhos incas pintados nas tampas das turbinas.

Eu e o engenheiro Ronald na casa de máquinas da hidrelétrica de Machu Picchu

As 4 da tarde, pegamos o trem, que faz um trajeto delicioso pelo meio das montanhas e nos leva a aconchegante cidade de Aguas Calientes (este trem é o que ficou totalmente bloqueado com as enchurradas do final de janeiro de 2010).

Na luxuosa estação de trem, vestido para a Machu Picchu fashion week...

Cheguei junto ao grupo e fui entregue devidamente ao albergue, onde voltaria a encontrar a Ana e a Betinha, após 4 dias de separação. Quando cheguei, elas estavam nas termas de Aguas Calientes, e para não perder o compromisso com a janta e os demais colegas de caminhada, tive que subir um trajeto de 20 minutos em 8, banhar-se ultra rapidamente nas termas que mais parecia o piscinão de Ramos, e voltar para a Plaza de Armas. Devo ter estabelecido um novo recorde mundial para o trajeto.
A chegada triunfal do grupo a Aguas Calientes, na frente como sempre Dor, e a esquerda nosso guia Rolando.

A noite foi uma delícia. Tomamos algumas cervejas, cantamos e falamos muita besteira. No entanto, como tinhamos que acordar as 3:30 da manhã para a subida a pé a Machu Picchu, fomos dormir cedo. O dia seguinte coroaria uma das viagens mais emocionantes que fiz em minha vida, e se somaria as memórias inesquecíveis de uma existência.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Expedição: Caminhada Salkantay - Dia 3 - 06 de janeiro de 2010

Terceiro dia começando! Todos um pouco úmidos da noite anterior. Mas o dia amanhecia melhor e a chuva parecia que iria dar uma trégua. O café da manhã como sempre animado, a dupla Leo (australiano) e Steve (americano) estavam sempre fazendo e falando coisas engraçadas, como uma mistura de Beavis and Butt-Head e o Gordo e o Magro.

Yes, we have Beavis and Butt-Head

Havia também Martin e Julio que eram engraçadíssimos com seu sarcasmo e ironia afiados. Estavam sempre falando de que aquilo que era férias, caminhando na chuva e no vento no meio do nada para dormir no mato encharcado em meio aos mosquitos. A gente ria até... O grupo era ótimo e estava sendo um prazer compartilhar a aventura com todos eles. De fato, estavamos nos tornando uma família!

O sarcástico Martin e nosso outro representante da Argentina, Julio

Terceiro dia, nos embrenharíamos na mata, seria uma caminhada meio esquisita, no começo nos enfiaríamos num mangue, e para minha infelicidade, a minha bota de tanto ficar presa na lama, abriu no solado e começou a encharcar de água e areia. O resultado disso seria desastroso ao final do dia.
O indonésio Ibrit, o nosso guia, o peruano Henry, e o brejo !!! Botas limpinhas...

O caminho começava no meio da mata, num barro que dava dó de ver. Pra variar, eram subidas e descidas. Chegariamos no final da trilha a uns 1800 metros, mas para isto desceriamos a 2.600, subiriamos a 2.900 mts numa outra caminhadinha de 17 kms básicos até o final do dia.

As nossas top-models, as holandesas Sam e Sofie .

A brasileira Jennifer estava com o pé totalmente inchado e seguiu o trajeto de cavalo. O restante de nós estavamos relativamente inteiros. Quando chegamos a segunda metade da manhã, os 3 holandeses (Geron, Sam & Sofie) começaram a reclamar do cansaço e da chuva, e gostaria de pegar um ônibus para a segunda metade do dia. Assim, o grupo se dividiria entre os 3 + Jennifer e os demais.
As nuvens nos acompanhavam...

O grupo que iria a pé (eu incluído) começou a seguir mais rápido, enquanto o que iria de ônibus estavam descendo com mais calma. Mal sabiam eles que o final desta história não seria um final feliz.

Jaqueta de chuva, blusa de frio e camisa regata, pronto para o inverno ou verão

A segunda metade do dia consistia em uma descida brusca e depois a caminhada por uma parte mais plana, uma estrada de terra. O ponto é que com as chuvas fortes, boa parte da estrada estava interrompida por deslizamentos. Assim: a opção de voltar de ônibus não existia!!! E pior, quem havia tomado a decisão de ir de ônibus ainda não sabia que esta opção não existia, estavam muito atrás no trajeto.

Henry, nosso guia, explicando alguma coisa pro grupo... olhem a nossa cara de compenetrados

Os que optaram em seguir a pé desta forma acabaram sendo privilegiados, já que neste dia o almoço só seria servido praticamente no final da caminhada. Os que vieram no segundo grupo acabaram seguindo por um caminho mais longo mas mais plano e fácil, no entanto diveram que caminhar da mesma forma!

Na segunda metade do trajeto: Deslizamentos de pedra por toda parte

A caminhada neste dia deveria ser uma delícia, se não fosse as bolhas que começaram a se formar em meu pé devido a meia molhada e cheia de areia. Na segunda metade do dia, não havia quase nem uma parte da sola do meu pé que não estivesse devidamente inflada com bolhas. A caminhada estava sendo um exercício de tolerância a dor.

Carro, ônibus, 4 x 4 ? Esquece... estes aí em cima eram os únicos meios de transporte disponíveis graças aos deslizamentos recentes

Mesmo assim, o passeio teve seus pontos altos. Entre as melhores partes estava a de ter que subir e descer as montanhas de pedras e terra dos deslizamentos que bloqueavam a estrada e o nosso atravessar do rio Lucmabamba por um pequeno carrinho que estava suspenso em uma tirolesa! Show de bola!

Uma cachoeirinha que deságua no rio Lucmabama

Não é de se estranhar que fiquei por último, tive que diminuir bastante o meu ritmo no final e devo ter chego quase 30 minutos depois do meu grupo, praticamente juntos com o segundo grupo que vieram pelo caminho mais plano.

Na última parte da caminhada

Mas cheguei!!! E como sempre, após conseguir tirar as botas, meu humor melhorou consideravelmente! Estava feliz de ter completado o terceiro dia, mesmo com todas as dificuldades. A minha bota dei de presente para o guia, e como o 4o dia era mais tranquilo, teria que fazê-lo de papete.

Cenas de cinema é que não faltavam!

Depois de almoçarmos as 5 da tarde, com direito a cerveja gelada, a nossa caminhada chegaria ao fim para tomarmos um ônibus por 40 minutos e seguirmos para o nosso acampamento no vilarejo de Santa Teresa. Aqui o acampamento seria montado dentro de uma laje de alvenaria, voltariamos a ter banheiro com privada de porcelana e papel higiênico, e o melhor de tudo, depois de 3 dias, voltariamos a tomar banho, e não num lugar qualquer, nos banhariamos no paraíso.

O ônibus que nos levaria ao vilarejo de Santa Teresa

As 8 da noite seguimos para as termas de Santa Teresa, um lugar lindíssimo, com águas vulcânicas e piscinas naturais cujas temperaturas variavam de 35 a 40 oC, uma delícia. Depois de caminhar por tanto tempo e ficar tanto tempo mal cheiroso e sujo, me senti num pedacinho do céu. O grupo estava radiante e as risadas e os sorrisos brotavam à toa.

Depois de quase 2 horas de banho, seguimos para o acampamento onde jantaríamos e dormiríamos. O outro dia seria bem mais tranquilo, com 6 horas de caminhada em terrenos bem mais favoráveis do que os que haviamos pegos até aqui. Já havia limpado as bolhas e colocado curativos e estava me preparando para o penúltimo dia de caminhada.

No paraíso: as Termas de Santa Teresa.

Dormir depois de um banho gostoso daquele foi questão de segundos, e eu estava completando meu terceiro dia de caminhada em uma felicidade sem fim!!!

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Expedição: Caminhada Salkantay - Dia 2 - 05 de janeiro de 2010

Nada como uma noite bem dormida. Como estava completamente exausto, não tive dificuldade nenhuma para dormir, e para a minha surpresa, acordei no dia seguinte ótimo. Não tive dúvidas, eu iria fazer o segundo dia de trilha, e a pé!

Caminhando nas nuvens!

Esta convicção ficou reforçada após o poderoso café da manhã com mate de coca. Me sentia novo! A única precaução que tive foi a de reduzir ao máximo a bagagem. Assim, para garantir o trajeto, fui radical, deixei praticamente a mala toda com os cavalos (tirei mais uma vez proveito da desistência dos demais para armazenar mais peso que poderia) e fiquei apenas com o essencial em uma mala/pochete que sempre trago comigo. Acho que esta foi a decisão mais sábia que já fiz em toda a viagem.


A prova d'água.

Neste dia, sairiamos dos nossos atuais 3.900 mts em Soraypampa rumo aos 4.600 mts, e depois voltariamos aos 3.800 mts, em 17 kilometros de caminhada até Colpapampa.

A manhã do segundo dia é só subida, mas uma subida com um visual ótimo. Estavamos ao pé da coordilheira e nos acompanhavam por toda a subida a vista do nevado Umantay e do majestoso Apu Salkantay. Assim, a cada novo passo, nos aproximávamos destes dois gigantes.


A paisagem valia a pena? Imagina...

Passamos por algumas pastagens, mas a subida é sobretudo ingreme e pedregosa. Por algumas vezes tinha a impressão que caminhava para um paredão sem saída de tão ingreme que eram algumas partes do trajeto.

De qualquer maneira, antes que eu pudesse perceber, chegaríamos no ponto mais alto da nossa caminhado, Salto Salkantay, nos seus 4.600 mts. Caminhar até lugares como este é equivalente ao bom sexo com orgasmo prolongado. Mesmo tendo caminhado a manhã inteira, me sentia ótimo, revigorado, e capaz de escalar o Everest.


A foto clássica! O meu recorde de caminhadas em alturas.

Infelizmente, naquela altura, o tempo estava nublado, afinal de contas estavamos nas núvens, e não foi possivel avistar de perto os dois gigantes, Umantay e Apu Sankantay da mesma forma que o avistamos de longe. Mesmo assim, o ponto alto de nossa travessia era marcado por pequenas e diversas pilhas de pedra que cada um dos viajantes fazia ao chegar lá. Tratei de fazer a minha, tirar várias fotos e dar risadas sem fim. O grupo estava com um humor excelente naquele momento. Na sequência ainda paramos num laguinho nas alturas para comer e ver a paisagem.

Toda a trupe. Pra este pessoal não tem tempo feio!

A descida foi mais tranquila para mim, mas nem tanto para os demais. A Jennifer começou a ter problemas com o calçado alugado dela, e seus pés começaram a encher de bolhas e a inchar, o que fez a segunda metade da caminhada dela um inferno. Depois iria aprender por experiencia própria que bons calçados e meias secas são fundamentais para este tipo de passeio.

Cansado, mas feliz!

A segunda metade da tarde do segundo dia era marcada por uma vegetação crescente e bonita, e uma chuva forte e insistente. Chegamos encharcados e cansados no acampamento. E parece que Deus deu uma brecha apenas para que pudéssemos montar as barracas sem chuva, pois mais a noite ela voltaria a nos incomodar.

Será que choveu ???

O segundo acampamento era quase como se dormir ao relento. O banheiro era um buraco no chão com 3 proteções a meia altura laterais, ou seja, não tinha teto e a parte do dorso ficava sempre descoberta. E era a segunda noite que passavamos sem duchas, e desta forma, sem banho!

Numa das pausas para descansar...

Para ajudar, estavamos numa barranqueira que tinhamos a impressão que se viesse uma enxurrada, nenhum de nós estaríamos por lá o dia seguinte.

Mesmo assim, o jantar, apesar da chuva, foi bastante animado!

Nós chegaríamos lá em baixo no dia seguinte...

A noite foi um pouco incomoda. Em várias barracas houve infiltrações de água, a minha inclusive. O meu saco de dormir absorveu boa parte da umidade, e tive que tirar as meias molhadas no meio da madrugada. Fora isto, sobrevivi! E estaria pronto para o 3º dia.

Expedição: Caminhada Salkantay - Dia 1 - 04 de janeiro de 2010

Chegamos a Mollepata, o local para tomar o café da manhã, e começamos lentamente a nos conhecer, os 16 aventureiros que somados aos 2 guias iriam cortar a cordiheira a pé, rumo a Machu Picchu.

No começo da trilha animadásso

Na primeira parada, a recomendação de levar folhas de coca para mascar e de diminuir o tamanho da mala. Cada pessoa poderia levar até 5 quilos junto aos cavalos. Quase que ignorei a recomendações, mas por insistência (para a minha sorte) diminui um pouco o peso da mala, o que foi vital para eu conseguir finalizar o primeiro dia de trajeto. Minha mala deve ter ficado com 8 a 10 Kgs depois de liberado um pouco de espaço.

Eu, a Sabine, o Edwin e a Jennifer

O começo da caminhada começa em um vilarejo tranquilo, numa estradinha de terra. No primeiro dia seriam 19 kilómetros e 1000 metros de subida, já que saiamos de um local a 2.900 metros de altitude e passariamos a noite em 3.900 metros. O que percebi mais tarde, para o meu desespero (rsrs), é que o trajeto teria alguns altos e baixos, e teria que subir muito mais do que os 1.000 metros esperados.

O cavalo, que não é burro, também parando pra descansar

Na parada para o almoço a primeira baixa: Pablo, um argentino de 44 anos, motoqueiro e gigante, com mais d 1,90m de altura, estava branco como cera. Ele tinha acabado de chegar a Cuzco e não tinha se habitualizado com a altitude, e mesmo sem estar carregando bagagem nenhuma, não aguentou o tranco.

O Pablo, a esquerda, nossa primeira baixa

Na primeira parada, a 3.450 metros de altura, lá vai o guia chamar o taxi para buscar o grandalhão. Depois fiquei sabendo que aquele ponto era o ponto sem retorno. Dali em diante, os novos desistentes (haveriam mais) teriam que voltar o trajeto a pé.

Eu ainda sem ter noção de como seria difícil a segunda metade

Eu estava exausto, a mala parecia que tinha uns 200 kgs, e cada vez que eu parava pra descansar era como se renascesse das cinzas. A vista era coisa de tirar o folego, em todos os sentidos. Montanhas lindas e precipícios que nos cercavam faziam toda caminhada valer a pena.

A segunda metade da caminhada não foi tão boa assim. Eu já estava chegando ao final das minhas forças e ainda tinha metade do trajeto a fazer. Os dois americanos de Boston, marido e mulher, estavam ficando bem pra trás do restante do grupo.

Alinhar ao centroO nosso luxuoso restaurante

Depois do almoço ela teve que subir de cavalo. A impressão que tive é que os dois estavam esperando uma caminhada bem mais tranquila.

Uma coisa que fui saber depois é que o tempo na cordilheira é bastante instável sendo difícil prever suas condições, mesmo para as próximas horas. Então, de uma tarde bem bonita e ensolarada passamos para uma tarde nublada e enfim, para a nossa infelicidade, uma tarde chuvosa.
E de repente, tudo nublado!!!

Eu havia comprado um poncho/capa de chuva para ocasiões como esta, já que a minha jaqueta impermeável corta vento não era tão recomendável para situações como esta, mas como eu tinha uma mala enorme e cheia de coisas, não encontrei a minha capa de chuva. Assim, pra ajudar a minha exaustão de primeiro dia, comecei a ficar molhado e com frio
.
Os cavalos, estes expetaculares meios de transporte

Se você já fez exército deve ter tido alguma sensação parecida. Algo como o segundo dia do acampamento BIVAQUE, onde você está exausto com fome e com frio. No meu caso, não estava com fome, mas estava exausto, com frio, molhado e sem ar. Caminhar acima dos 3.600 metros de altura com o nariz escorrendo não é nada fácil para os pulmões.

Estava a ponto de entregar as pontas. Já não estava sentindo mais as pontas dos dedos devido ao frio e a má circulação sanguinea por causa das malas pesadas. Quando tudo ia de mal a pior, eis que chega a notícia que o abrigo estava logo ali, e com ele o final da caminhada do primeiro dia.

A vista, sempre expetacular !

A visão do final da caminhada funcionou pra mim como um tônico revigorante, e fui capaz de percorrer os 15 minutos que me separavam do abrigo com uma esperança renovada.

A sensação de chegar naquele primeiro dia é indescritível. Sublime. Fantástica. Mesmo assim, naquele exato momento me questionava se seria mais um dos desistentes. A impressão nítida que tinha é que não conseguiria fazer o segundo dia, e já estava cogitando seriamente o uso dos cavalos.

Anatuc, Julio, Sabine, Edwin e eu, esta turma não é fraca, não.

O abrigo era bacana, eram 8 tendas dispostas para os 16 participantes dentro de um barracão de madeira que nos deixavam protegidos do vento e da chuva. Com a baixa do Pablo, acabei ficando com uma tenda só pra mim. E para a alegria de todos, já havia descoberto no almoço que os banheiros dali pra frente seria fossas naturais.

Os americanos chegaram bem depois de nós, ela de cavalo e ele a pé. Mais tarde eles nós comunicariam também que deixariam o grupo e voltariam o trajeto feito neste dia no dia seguinte.

Outros grupos faziam também a mesma trilha nossa, a Salkantay, e um grupo de 5 pessoas, 3 brasileiros e 2 argentinos nos preocupavam, pois o tempo passava e eles não chegavam ao abrigo em Soraypampa. Muito mais tarde fomos descobrir que eles ficaram presos entre dois rios devido a chuva que aumentou a noite e tiveram que passar uma noite digna de discovery chanel molhados, ilhados e ao relento. Eles também iriam com isso abandonar o trajeto e seguir direto para Santa Teresa nosso destino do dia 3.

Vale o relato que neste dia também experimentei mascar folhas de coca, como os nativos. Pega-se as folhas, coloca-se, devagar, elas, pouco a pouco em uma das bochechas e se masca lentamente como um chiclete. Já havia tomado chá de coca em várias outras ocasiões, mas esta foi a primeira vez que mascava as folhas diretamente. De fato, mascar as folhas dá aquela sensação de dormência na boca, como uma anestesia. E confesso que não achei agradável ficar com aquele monte de folhas na boca, assim, para os outros dias, preferi o mate, ao invés das folhas diretamente.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Expedição: 4, 5, 6 , 7 e 8 - Salkantay - Machu Picchu

A minha aventura particular começa às 4 da manhã do dia 4 de janeiro de 2010, a espera do ônibus. Na verdade o ônibus chegou quase às 5, mas fiquei na cabeça que ele passaria as 4 e acordei cedo barbaridade. E com um baita sono, me junto ao grupo de desconhecidos que por 5 dias passariam a ser a minha família, e que dividiria minha intimidade como poucos.

O começo da trilha, bem sossegada!



O ônibus já continha alguns integrantes e foi se completando com os demais a medida que parava nos hotéis e albergues. Aqui são eles: A alemã Sabine, o inglês Edvin, o indonésio Ibrit, os holandeses Geron, Sam e Sofie, o americano Steve e seu amigo australiano Leo, a mãe e o filho holandeses Anatuc e Dor, os argentinos Martin e Julio, a brasileira Jennifer, o argentino Pablo e os americanos de Boston que não me recordo o nome. A nós se juntaram os guias Enri e Ronaldo além da equipe de 3 cozinheiros comandados pelo Sérgio e o grupo de cavaleiros encarregados do transporte das coisas.

Da esquerda pra direita: Henry, Jennifer, Leo, Edwin e Steve, dando uma pausa pra descansar.


Expedicionário de primeira viajem, levei uma mala absurda em tamanho e algo pouco recomendável para não falar em completamente impensável para uma caminhada como esta.

Um de nossos guias, o Ronaldo, com a camiseta do Brasil ao centro

Nós fizemos um trajeto de quase 2 horas de carro numa paisagem maravilhosa e chegamos ao ponto inicial de nossa caminhada.