Chegamos a Mollepata, o local para tomar o café da manhã, e começamos lentamente a nos conhecer, os 16 aventureiros que somados aos 2 guias iriam cortar a cordiheira a pé, rumo a Machu Picchu.
Na primeira parada, a recomendação de levar folhas de coca para mascar e de diminuir o tamanho da mala. Cada pessoa poderia levar até 5 quilos junto aos cavalos. Quase que ignorei a recomendações, mas por insistência (para a minha sorte) diminui um pouco o peso da mala, o que foi vital para eu conseguir finalizar o primeiro dia de trajeto. Minha mala deve ter ficado com 8 a 10 Kgs depois de liberado um pouco de espaço.
O começo da caminhada começa em um vilarejo tranquilo, numa estradinha de terra. No primeiro dia seriam 19 kilómetros e 1000 metros de subida, já que saiamos de um local a 2.900 metros de altitude e passariamos a noite em 3.900 metros. O que percebi mais tarde, para o meu desespero (rsrs), é que o trajeto teria alguns altos e baixos, e teria que subir muito mais do que os 1.000 metros esperados.
Na parada para o almoço a primeira baixa: Pablo, um argentino de 44 anos, motoqueiro e gigante, com mais d 1,90m de altura, estava branco como cera. Ele tinha acabado de chegar a Cuzco e não tinha se habitualizado com a altitude, e mesmo sem estar carregando bagagem nenhuma, não aguentou o tranco.
Na primeira parada, a 3.450 metros de altura, lá vai o guia chamar o taxi para buscar o grandalhão. Depois fiquei sabendo que aquele ponto era o ponto sem retorno. Dali em diante, os novos desistentes (haveriam mais) teriam que voltar o trajeto a pé.
Eu estava exausto, a mala parecia que tinha uns 200 kgs, e cada vez que eu parava pra descansar era como se renascesse das cinzas. A vista era coisa de tirar o folego, em todos os sentidos. Montanhas lindas e precipícios que nos cercavam faziam toda caminhada valer a pena.
A segunda metade da caminhada não foi tão boa assim. Eu já estava chegando ao final das minhas forças e ainda tinha metade do trajeto a fazer. Os dois americanos de Boston, marido e mulher, estavam ficando bem pra trás do restante do grupo.
Depois do almoço ela teve que subir de cavalo. A impressão que tive é que os dois estavam esperando uma caminhada bem mais tranquila.
Uma coisa que fui saber depois é que o tempo na cordilheira é bastante instável sendo difícil prever suas condições, mesmo para as próximas horas. Então, de uma tarde bem bonita e ensolarada passamos para uma tarde nublada e enfim, para a nossa infelicidade, uma tarde chuvosa.
Eu havia comprado um poncho/capa de chuva para ocasiões como esta, já que a minha jaqueta impermeável corta vento não era tão recomendável para situações como esta, mas como eu tinha uma mala enorme e cheia de coisas, não encontrei a minha capa de chuva. Assim, pra ajudar a minha exaustão de primeiro dia, comecei a ficar molhado e com frio
.
Se você já fez exército deve ter tido alguma sensação parecida. Algo como o segundo dia do acampamento BIVAQUE, onde você está exausto com fome e com frio. No meu caso, não estava com fome, mas estava exausto, com frio, molhado e sem ar. Caminhar acima dos 3.600 metros de altura com o nariz escorrendo não é nada fácil para os pulmões.
Estava a ponto de entregar as pontas. Já não estava sentindo mais as pontas dos dedos devido ao frio e a má circulação sanguinea por causa das malas pesadas. Quando tudo ia de mal a pior, eis que chega a notícia que o abrigo estava logo ali, e com ele o final da caminhada do primeiro dia.
A visão do final da caminhada funcionou pra mim como um tônico revigorante, e fui capaz de percorrer os 15 minutos que me separavam do abrigo com uma esperança renovada.
A sensação de chegar naquele primeiro dia é indescritível. Sublime. Fantástica. Mesmo assim, naquele exato momento me questionava se seria mais um dos desistentes. A impressão nítida que tinha é que não conseguiria fazer o segundo dia, e já estava cogitando seriamente o uso dos cavalos.
O abrigo era bacana, eram 8 tendas dispostas para os 16 participantes dentro de um barracão de madeira que nos deixavam protegidos do vento e da chuva. Com a baixa do Pablo, acabei ficando com uma tenda só pra mim. E para a alegria de todos, já havia descoberto no almoço que os banheiros dali pra frente seria fossas naturais.
Os americanos chegaram bem depois de nós, ela de cavalo e ele a pé. Mais tarde eles nós comunicariam também que deixariam o grupo e voltariam o trajeto feito neste dia no dia seguinte.
Outros grupos faziam também a mesma trilha nossa, a Salkantay, e um grupo de 5 pessoas, 3 brasileiros e 2 argentinos nos preocupavam, pois o tempo passava e eles não chegavam ao abrigo em Soraypampa. Muito mais tarde fomos descobrir que eles ficaram presos entre dois rios devido a chuva que aumentou a noite e tiveram que passar uma noite digna de discovery chanel molhados, ilhados e ao relento. Eles também iriam com isso abandonar o trajeto e seguir direto para Santa Teresa nosso destino do dia 3.
Vale o relato que neste dia também experimentei mascar folhas de coca, como os nativos. Pega-se as folhas, coloca-se, devagar, elas, pouco a pouco em uma das bochechas e se masca lentamente como um chiclete. Já havia tomado chá de coca em várias outras ocasiões, mas esta foi a primeira vez que mascava as folhas diretamente. De fato, mascar as folhas dá aquela sensação de dormência na boca, como uma anestesia. E confesso que não achei agradável ficar com aquele monte de folhas na boca, assim, para os outros dias, preferi o mate, ao invés das folhas diretamente.
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
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