terça-feira, 9 de novembro de 2010
Replicando - Quem sou eu 2
O dia em que o amor morreu
Ele que vinha feliz e pululante, ele que vive da alegria e da fé. O amor que acredita em tudo, perdoa tudo e não desiste nunca. Ele que vê esperança onde os outros só vêem desespero. Pois é, ele mesmo, o amor, morreu.
Morreu jovem, tinha 6 meses ou nem isso. Não digo que não teve uma vida intensa, o amor sempre tem uma vida intensa. Ele foi feliz e completo, pelo menos nos instantes em que estava feliz e completo. Ele foi cúmplice, juiz, pai e mãe, amigo e companheiro.
Não digo que não tenha sofrido, pois amor que é amor sempre sofre. As vezes por coisas que nem sei. Mas este amor, morreu de tristeza, de sofrimento cronico, de perder uma de suas principais capacidades, a capacidade de acreditar. Morreu envenenado pela mentira, pelo descaso as coisas belas e ao que era importante, morreu por que se quis e assim foi.
De tantos caminhos que poderia seguir, ele foi encaminhado para o pior, o da desilusão e o da morte. Morreu triste, mas com a certeza de que viveu. Viveu e tentou, acreditou até onde não poder mais, sentiu, tentou, buscou. Morreu a morte dos justos, de quem tenta até o limite.
Jaz aqui o amor, que um dia foi belo, intenso e majestoso. Que um dia pensou poder viver pra sempre, mas que não foi alimentado como devia. Morreu de inanição.
Aqui jaz o amor!
terça-feira, 18 de maio de 2010
O homem que gostava do vento
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
Expedição: 16 e 17 de janeiro
Sucre fica a um pouco menos de 3hs de viagem de Potosi, e o normal é pegar um taxi que faz este trajeto a esta hora da noite. Pegamos um taxista malandro, que acabou nos cobrando no final mais caro do que o que havíamos combinado, arruinando um pouco da boa reputação que os bolivianos gozavam até então. Realmente tem pilantra em toda a parte.
Este taxista tinha uma bola enorme de folhas de coca na boca, que ficava mascando sem parar. A impressão que tive é que ele já estava um bom tempo trabalhando e não seria nem um pouco seguro deixá-lo dirigir sozinho. Assim eu e a Ana nos revezamos como co-pilotos e garantimos que ele tivesse alguém para conversar o tempo todo, apesar da exaustão em que estávamos.
Chegamos as 4h30 da manhã em Sucre e descidimos, ao invés de ir a algum albergue, economizar e irmos direto ao aeroporto, que supostamente abriria as 6hs. Acabamos dormindo na praça em frente ao aeroporto, que deve ter aberto quase umas 7hs. Ainda lá dentro tivemos que aguardar até as 10hs para que pudéssemos fazer o Check-in e deixar nossas malas.
Depois ainda aproveitamos para dar uma volta na cidade, conhecer Sucre que é muito bonita por sinal com lindas praças e casas bem bonitas ao estílo colonial. Tivemos tempo de ir ao Parque dos Dinossauros onde é possível se ver as pegadas destes gigantes além de muitas réplicas em tamanho natural de uma série de espécies diferentes. Achei o lugar bem legal.
Se não me engano, as 16hs pegamos o nosso vôo de volta para Santa Cruz de La Sierra, onde pegaríamos o nosso vôo para regressar ao Brasil no dia seguinte.
Voltar a Santa Cruz foi como voltar pra casa. Albergue e ruas conhecidas, numa cidade bastante cosmopolíta. Aproveitamos para comprar os presentes que faltava e descansar.
Chegamos no Brasil a noite do dia 17 de janeiro de 2010, num dia chuvoso em São Paulo. E esta viagem me faz acreditar que algumas vezes a realidade pode ser feito do mesmo material que são feitos os sonhos.
Estava contente em voltar pra casa, e estava pronto para começar a me preparar para a próxima!!!
Expedição: 12, 13, 14 e 15 de janeiro
A viagem de Arica a San Pedro é bem chatinha. A gente para algumas vezes no trajeto para controles. Que me desculpem os chilenos, mas a fiscalização é um porre, e os postos policiais cheios de preconceitos. Você acredita que pediram pra Ana descer sozinha só porque ela era brasileira. E a maioria dos peruanos e bolivianos sofrem muito preconceitos, houvi histórias até de retenção ilegal de passaportes e documentos de identidade. Para um país que se diz tão civilizado eles deveriam mesmo é ter vergonha de tamanha estupidez.
Durante a viagem, a Betinha passou mal realmente, e chegou branca (mais branca ainda) em San Pedro, tanto que estavamos todos preocupados, e não sabiamos ao certo como faríamos pra seguir para a nossa próxima parada (Uyuni - Bolívia).
Já estavamos um dia atrasados no nosso intinerário, e estava buscando loucamente algum tour que pudesse fazer a travessia do deserto em 2 dias. Mas ou se fazia o translado de 1 dia que é basicamente o transporte sem parada alguma, ou, para visitar os ponts turisticos, há de se fazer os 3 dias. A terceira alternativa é ser milionário e contatar um tour particular que custa uma fortuna.
Bem, como havíamos chegado cedo, tinhamos tempo pra conhecer a cidade, que é a réplica perfeita das cidades do velho oeste dos desenhos do Pica-Pau, muito louca, cheio de casas de pedra, ruas estreitas e areia, muita areia.
Durante a tarde acabamos por levar a Betinha no médico, e batata, ela estava com o tal do mal de altitude (o marvadão), e teve que ficar no Pronto-Socorro tomando oxigênio (a oxigenação dela estava em 92% quando o normal é estar em 100% ). Eu e a Ana estávamos a base do santo remédio, o chazinho de coca, mas a Betinha tinha mal estar psicológico só em ver a folhinha de coca, tanto que quando saimos a noite pra comer alguma coisa antes de começar a travessia do deserto, para o nosso desespero, a Betinha desmaiou, só em tentar mascar um pedacinho de folha.
Fui uma experiência a la "O Exorcista", a Betinha passando mal e desmaindo enquanto eu tentava levar ela pra fora do bar. Impressionante como uma pessoa com os seus 50 e poucos quilos pode de repende pesar mais de 100. Graças ao bom Deus que apareceram do nada uma enfermeria e praticamente uma equipe médica inteira e a Betinha ressucitou.
A nossa cabeça estava a mil, já que no dia seguinte logo as 8hs da manhã haviamos comprado o tour para atravessar por 3 dias o deserto do Atacama, um programa excelente para quem estava mais branca que o salar.
Mas Deus estava por nós, e a Betinha se levantou melhor e achou melhor seguir viagem.
Pegamos uma tal Paloma tour junto com um casal de colombianos e um japonês muito louco, além de um motorista boliviano bastante malandro e a cara do Ligeirinho.
O primeiro dia de tour foi uma droga. Aliás, a Paloma tour é uma droga completa e tivemos que nos pronunciar para que o tour inteiro não fosse um desastre. No final, apesar da porcaria da agência, foi bem divertido.
No primeiro dia fazemos uma série de lagoas (a laguna azul, a laguna verde e vemos a laguna colorada) além de visitarmos os Geysers e as termas. O deserto é fantástico e todos os lugares são lindos. O problema do primeiro dia é que ficamos muito pouco tempo em cada um dos lugares, e depois que fomos descobrir o porquê.
Estavamos com o carro mais velho de todo o deserto do Atacama, e ousaria dizer que um dos mais velhos de todo o Chile. E o nosso motorista não queria ficar muito tempo em cada parada por dois motivos: 1) O carro quebrar e náo ter ninguém depois dele para nos socorrer, 2) Porque a agência não tinha feito reserva no alojamento e corríamos o risco de encontrar o lugar lotado.
Assim, chegamos as 14hs no alojamento e o programa do primeiro dia tinha acabado. Eu fiquei puto! Mas como não tinha saco pra ficar a tarde inteira no acampamento, acabei fazendo até que inconscientemente uma das caminhadas mais loucas de minha vida: 3 horas de caminhada no deserto.
Na verdade, como náo haviamos nos aproximado da Laguna Colorada, pensei em ir caminhando até lá pra dar uma voltinha. A Ana também achou uma boa idéia e quis me acompanhar. O problema é que a laguna é enorme, e de onde estávamos achavamos que era pertinho. A Ana, depois de 30 minutos de caminhada desistiu e resolveu voltar. Eu como sou teimoso como pedra, resolvi seguir viagem.
Na ida, tudo bem, consegui até pegar carona com um off-road que apareceu do meio do nada (se eu fiquei espantado, imagina os caras que me deram carona, que encontraram um louco andando no meio do deserto). Assim, economizei uns bons 40 minutos, fazendo o trajeto de ida em pouco mais de uma hora.
O lugar é de outro mundo! A laguna cheia de flamingos e cores exóticas nos faz pensar que estamos em Marte ou coisa do gênero. O problema foi caminhar a volta para o refugio. O vento estava contra, o sol estava de rachar, o terreno é todo irregular, e a areia tenta desviar-se dos óculos pra tentar entrar bem no meio do seu olho. Uma sensação continua de desconforto. Me senti naqueles filmes de legionário atravessando o Saara. Enfim, a minha própria travessia do deserto.
No segundo dia de deserto, a coisa melhorou. Como xingamos o motorista por termos ficado a tarde inteira de bobeira no albergue, e ele explicou as razões dele (e a verdade veio a tona) entramos em um acordo, que não seríamos os últimos, então tentaríamos não ficar muito tempo enrolando nos lugares, mas ele nos deixaria mais tempo em cada um dos atrativos. A coisa funcionou bem. O roteiro do segundo dia passa pela Laguna Colorada, a Árvore de Pedra, e mais uma série de lagoas muito bonitas. O próprio deserto é um show em si.
E a aventura foi maior para nós que a cada parada ficávamos naquele drama de abrir o capo enquanto o motorista que também era mecânica ficava a cada parada trocando ou mechendo em alguma peça do nosso carro. Toda hora tinha impressão que o carro ficaria por ali mesmo. rsrs
O final do segundo dia é num hotel de sal. Isto mesmo, ficamos hospedados, agora num local que tinha direito a banho e tido (o refúgio não tinha chuveiro), num hotel feito com tijolos de sal compactado. Mais do que isso, além das paredes, as camas, as mesas e cadeiras eram todas feitas de sal. Muito bacana.
Pela quantidade de sal, vocês já devem ter presumido o óbvio, estávamos ao lado do Salar de Uyuni, que seria o nosso próximo passeio.
No terceiro dia, a viagem é pelo Salar, e ouso dizer que o Salar de Uyuni é a paisagem mais bizarra que eu já vi em toda a minha vida. Imaginem vocês um salão feito de mármore branco, agora imaginem um salão de mármore branco infinito. Isto é o salar. Pra todo lado que você olha existe sal, placas de sal, num brancor de doer os olhos!!! Estavamos literalmente num mar de sal.
As fotos são fantásticas, mas não conseguem nem de perto traduzir a beleza do lugar. Me senti num sonho, ou num filme de Lars von Trier. Primeiro visitamos um outro albergue de sal, o mais famoso e bonito do lugar. Depois seguimos para a Isla. A Isla é uma ilha de terra bem no meio do mar de sal, e o nome é super apropriado, porque temos a nítida impressão que estamos numa ilha. Um lugar maravilhoso.
Por fim, passamos num lugar para ver artesanatos e chegamos a palpérrima cidade de Uyumi. De lá vamos ao cemitério de trem, um lugar bem bacana cheio de trens enferrujados e voltamos a cidade para aguardar o nosso ônibus supostamente para Sucre.
Ao chegar na cidade de Uyumi, para nossa felicidade descobrimos que: 1) Não haviam mais ônibus direto para Sucre, 2) A nossa agência, expetacular que era, ainda não tinha providenciado as passagens, apenas reservado, 3) Para comprar água gelada na cidade é preciso encomendar de um dia para outro. Enfim: Sensacional.
Após muita insistência de nossa parte conseguimos (e demos graças a Deus por isso), 3 passagens num cata-louco e seguimos viagem até Potosi. Apesar do ônibus vir completamente lotado com pessoas de pé e sentadas no corredor, colocando produtos e bebês no seu colo, naqueles típicos filmes que mostram a pobreza da região, pior seria ficar preso na cidade de Uyuni por mais um dia. De qualquer maneira, haviamos atravessado o deserto, voltávamos a nossa querida Bolívia e seguíamos finalmente para casa.
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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
Expedição: 9, 10 e 11 janeiro
Lá, fomos super bem recepcionados e conseguimos reservar um albergue, ter idéia de passeios a fazer e comprar as passagens para o dia seguinte tudo a partir da recpção da Cruz del Sur. Uma comodidade incrível. De lá fomos levados por um ótimo albergue do lado da praça de armas.
O albergue ficava a 2 lances de escada do térreo, mas como eu estava craque em subir escadas, praticamente, nem reparei... rrsrrs.
A cidade de Arequipa fica a um pouco mais de 2 mil metros de altura, e tem várias atrações. Uma das principais delas é o Cannyon del Colca, onde conforme diz a lenda, os condores voam sobre as nossas cabeças. Como nós havíamos chegado cedo na cidade, foi possível aproveitar bem o tempo. De manhã descansamos, e a tarde pegamos um tour de 4 horas pela cidade.
O tour foi bem meia boca, com seu ponto alto no passeio de cavalo da Betinha, e na participação como penetra na celebração de um casamento na cidade. As paisagens eram bem bonitas!!!
No dia seguinte, acordávamos as 2 da manhã para pegarmos um ônibus que nos levaria ao famoso Canyon. Iriamos dividir o micro ônibus com 2 alemães, 2 brasileros, e 2 peruanos, fora um guia que era um entojo de chato, com um motorista igual. A nossa progaramação seria um dia inteiro no Canyon del Colca e cidades na cercania.
Chegamos a cidadezinha de Chivay que seria a base do nosso passeio. De lá seguiriamos ao mirante Cruz del Condor que ficava a quase 4 mil metros na tentativa de olhar os magnificos condores. A vista do Canyon é magnifica. Ele tem uma profundidade que em alguns pontos chegam a 1.600 metros de desnível, e a paisagem fica de tirar o fôlego literalmente.
Infelizmente, não conseguimos ver nenhum Condor de perto, o máximo que vimos foram alguns deles bem lá embaixo do Canyon, o que gerou inúmeras brincadeiras de nossa parte. Acho que chegamos cedo demais no local. Mas mesmo sem ter visto os condores, a viagem tinha valido a pena.
Por fim, passamos ainda num vilarejo e nas termas onde podemos relaxar um pouco. E o final do passeio foi uma subida até os 5.000 metros de altura (desta vez de carro), onde eu estabeleceria o meu novo recorde de altitude!!! Lá em cima, não se pudia ver nada, apenas nuvens, e o vento era bastante forte.
Chegamos de volta a cidade, arrumamos as malas e seguimos para a nossa próxima cidade, que seria São Pedro de Atacama. O ponto é que a saída do Peru seria mais complicada que imaginávamos. Não há ônibus direto de Arequipa a São Pedro, na verdade, teríamos que fazer algumas paradas, a primeira delas na cidade histórica de Tacna, ainda no Peru, na fronteira com o Chile. Lá chegaríamos as 4:00 da manhã. Estávamos nos especializando em chegar no meio da madrugada nos lugares.
A viagem até Tacna foi relativamente tranquila. Ao chegarmos na cidade, tivemos que pegar uma espécie de taxi coletivo até a fronteira. O taxi ia cheio e cobrava um preço fixo por pessoa. Acabamos de dividir ele com 2 franceses, que não falavamo praticamente nada em espanhol. Duas figuras.
Chegamos na fronteira umas 5:20 horário peruano, e teriamos que aguardar até as 6:00. No Chile, a diferença de horário era de 2 horas, e o horário local seria as 8:00. Atravessar do Peru pro Chile é bem embassado, aliás, tudo no Chile neste aspecto é um exagero de desconforto.
Após a revista de nossas malas e passaportes, chegamos finalmente ao outro lado da fronteira, e seguimos de taxi a cidade de Arica, primeira cidade litorânea de todo o trajeto. A cidade de Arica não estava em nosso roteiro e a idéia era só passar por ela para chegar a Santiago. Mas ao chegar na rodoviária a primeira surpresa. Não havia ônibus matinais para São Pedro, na verdade, só havia um único horário pra cidade, o das 20h00. Desta forma, o primeiro grande imprevisto acontecia: Não conseguiriamos chegar no dia planejado em São Pedro, e atrasaríamos em 1 dia a nossa viagem. Como tinhamos avião marcado, teríamos que compensar este dia de alguma forma....
Enfim, estávamos presos em Arica, e decidimos por tomar proveito da situação. O novo moto era: Vamos a la playa, oooo, vamos a la playa, oooo.
Colocamos as nossas mochilas em um locker, pegamos a nossa mochilas de caminhada e seguimos para conhecer a cidade e nos banhar nas gelidas aguas do Pacìfico.
A cidade é bacaninha, achei interessante visitar uma igreja que havia sido projetada por Gustave Eifell, este mesmo da torre de Paris. Os traços dele são marcantes e vi algumas similaridades tanto com a Torre como com a ponte também dele na cidade de Porto.
No final passamos o dia na praia, deitadão por horas a fio. Eu tentei entrar no mar, mas a água é bastante gelada, e o fundo do mar coberto de pedras e ouriços, o que assustava, assim prefiri não entrar mais do que a altura dos joelhos e retornar a minha cadeira para mais uma cervejinha.
A Betinha ficou tostando no sol, e acabou se queimando, ou seja, deu uma de turista... rsrsr. Depois acabamos de reservar um albergue bem baratinho pra descansar e tomar banho e poder finalmente seguir viagem.
No dia 11 a noite, finalmente pegaríamos o nosso ônibus e seguiríamos para o destino final de nossa viagem, o deserto do Atacama.
domingo, 31 de janeiro de 2010
Expedição: Caminhada Salkantay - Dia 5 - 08 de janeiro de 2010
Eu fui o primeiro a chegar, as 4:10, aproveitei pra tomar um café expresso quentinho que uma loja vendia, e confesso que me sentia ótimo. As bolhas estavam bem protegidas com uma espécie de segunda pele. Um curativo novo e muito bom que a Ana tinha levado e havia me dado.
As 4:25 começamos a caminhada com todos. O clima era de uma maratona, sabiamos que tinhamos que ser rápidos para chegar antes dos ônibus e assim garantir nosso lugar. Antes de nós já haviam partido várias pessoas e a trilha começa.
Logo estavamos num breu total, e o guia não nos acompanharia. Assim teríamos que confiar em nossos instintos, na marcação da trilha que era muito boa e nas nossas super lanternas. Me sentia numa corrida, porque todos andávam rápidos e queriamos chegar o quanto antes. Seriam 1 hora e meia de caminhada, toda ela em subida ingreme, bastante ingreme.
Saimos num pelotão, eu estava no pelotão de frente e disposto a fazer um bom tempo... O caminho começa plano, mas logo se transforma em uma coisa só, uma escada infinita até o céu... As escadarias são uma coisa absurda, degraus imponentes, grandes o suficiente para dificultar a subida. E o que fariamos depois dos 15 minutos iniciais de trilha seria só subir.
No final tinha a impressão que a escada não acabaria nunca, e a manhã daquele dia começava chuvosa e nublada, então para piorar não sabiamos quão longe estavamos do pico... Mas como disse estava com a energia toda, e subi aquelas escadas em ritmo frenético. Estava ultrapassando todo mundo... Do nosso grupo de caminhada eu estava bem a frente. Na minha frente apenas o Dor, com seus 18 anos e seus 1,90 mts de altura, e o Edwin, que vinha logo a minha frente.
Fizemos o percurso em tempo recorde, um pouco mais de 1 hora, quando cheguei a entrada de Machu Picchu estava uma catarata de suor, mas numa felicidade sem fim. Depois do meu último degrau não tive dúvidas. Soltei um urro de felicidade. Eu estava lá, a porta da entrada do Machu Picchu, e pelo número de pessoas a minha frente eu iria sim a Waynapicchu !!!
Peguei a senha 279 para o horário das 10-11, tudo perfeito. As meninas que vieram de ônibus depois, não tiveram a mesma sorte, as senhas haviam acabado, para elas não teria Waynapicchu.
Macchupichu é uma cidade de pedras. Um lugar sagrado. Imaginar-se no tempo no meio da civilização inca é uma coisa impossível de não se fazer. O local é enorme e há varias construções interessantes.
Há 3 divindades principais, a Serpente, o Puma e o Condor. A Serpente representa o mundo dos mortos, o submundo, o passado. O Puma representa o mundo presente, as coisas, a realidade. E o Condor o mundo do amanhã, o futuro, as possibilidades... Estava encarnando o Puma, vivendo o presente com toda a intensidade, e vislumbrava o Condor, sem me preocupar tanto com a Serpente....
As 10, estava na fila para subir a Waynapicchu, eis quando surge a Betinha toda feliz, ela tinha conseguido um bilhete para subir com a gente com meu amigo argentino Pablo, que na verdade só queria sombra e agua fresca.... Infelizmente a alegria dela durou pouco, como o bilhete com a senha estava muito encharcado, e desgrampeado do bilhete de entrada ao sitio arqueológico, o idiota do guarda o julgou como falso e proibiu a entrada da Betinha, uma injustiça tremenda, além de uns episódios mais tristes de toda a viagem.
Eu estava com o tempo contado, deveria subir e descer de Waynapichu até no máximo as 12:30, porque deveria pegar o ônibus de volta a Aguas Calientes, pagar o albergue e correr para o Ferroviária para pegar nosso trem as 14:00 já que tinhamos um ônibus no mesmo dia para Arequipa as 20:30 em Cuzco... uma loucura.
Subi as impressionantes escadas de Waynapicchu animado, apesar de um pouco cansado. A subida é incrível. Uma escada irregular, com trechos estreitíssimos e um abismo de mais de 1.000 metros ao seu lado. Nem preciso falar como me senti tendo o medo de altura que eu tenho... rrsr
A vista de cima de Waynapicchu é uma coisa indescritível, ainda mais porque o tempo abriu e o céu estava lindíssimo. Infelizmente, como a Betinha não subiu, eu não tenho fotos, apenas um vídeo do lugar, e posso garantir que a subida vale todo o esforço.
Quando desci, por volta das 12:20, não poderia deixar de contar com um pouco de aventura. Primeiro, Macchupichu é super bem sinalizada para quem entra, mas é quase impossível achar a saída daquele lugar. Eu já estava ficando quase louco. Eu tinha pensado que havia marcado com as meninas de nos encontrar no ponto de ônibus por volta das 13:00. O ônibus levava um pouco menos de 40 minutos para Aguas Calientes e teríamos 20 minutos para pegar as malas no albergue, chegar na Ferroviaria (5 minutos a pé do albergue) e tomar nosso ônibus.
Consegui chegar lá fora as 12:50.... quando cheguei... cadê as meninas? Não encontrava elas em lugar nenhum. As pessoas que conheciam me dizia que elas também estavam atrás de mim, mas já fazia muito tempo que eles não as viam... Fiquei esperando até as 13:20, meu tempo limite para não perder o trem.... Depois disso peguei o ônibus e fui a Aguas Calientes. Eu estava tão cansado que dormi no trajeto e tive que ser acordado no ponto final.
Quando dobrei a esquina da praça de armas já vi a Ana desesperada me acenando do Albergue... Elas tinham saído sem mim, imaginaram que eu já havia retornado. Uma loucura. Tivemos que entrar no quarto de baguagem pra resgatar as nossas malas, já que na hora que chegamos no nosso albergue não havia ninguem para nos atender, e saimos feito insanos em direção a Ferroviaria, já que eram praticamente 14:00 .
Nisso o cara do albergue nos alcança para me devolver minhas roupas que havia deixado na lavandeiria e obviamente cobrar pelo serviço... Foi uma sorte, se não, teria perdido uma boa leva de roupas. Chegamos na estação e havia um cara aguardando por nós (nada como ser VIPs...) o trem nos esperava, estava atrasado e a gente era obviamente os últimos.
Nunca corri tanto na vida, e de fato, este bilhete de trem que nós pegamos era o máximo. O vagão tinha o seu teto feito em vidro e podíamos ir apreciando o trajeto por todo o caminho. E melhor, eles serviam bolachinhas e refrigerantes. Pra mim que não tive tempo de almoçar e nem de tomar café da manhã direito me sentia no paraíso.
Chegamos em Cuzco eram quase 18:00. Tivemos um tempinho para descansar um pouco, fazer as últimas compras e seguir para a Rodoviária. Naquela noite seguiríamos para Arequipa para a parte final de nossa viagem.
Machu Picchu foi uma experiência fantástica, em si, e por coroar o último dia desta caminhada incrível que foi o caminho de Salkantay, algo que tenho certeza que nunca esquecerei.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
Expedição: Caminhada Salkantay - Dia 4 - 07 de janeiro de 2010
Por conta das bolhas do dia anterior adotei a estratégia de fazer apenas meio dia de caminhada (a parte da manhã era mais tranquila), a parte da tarde faria o trajeto de trem, já que não queria de maneira alguma colocar em risco a minha subida a pé para a cidade inca de Machu Picchu e a minha subida a montanha Waynapicchu no dia seguinte.
A caminhada na manhã do quarto dia era realmente tranquila, mesmo com o pé cheio de band-aids para a minha coleção de bolhas, e sem a minha ex-bota, não tive dificuldades em fazer a primeira etapa com o meu super papete e meias, meu único calçado a partir de então.
Uma pena que tive que decidir um dia antes a minha ida de trem na segunda parte do trajeto, hoje acredito que não teria problemas em fazer a segunda metade (pelos trilhos) também. Falando nisso, ouvindo os noticiários da situação das enchentes na cidade de Aguas Calientes e do transbordamento do rio Urubamba é que percebo quanto Deus estava conosco por toda caminhada. Estar ilhado em uma caminhada no meio do nada não deve ser uma sensação muito agradável!!!
Para almoçar chegamos em um restaurante nas proximidades da usina de Machu Picchu. Esta seria a minha primeira separação dos meus companheiros de caminhada. No almoço me juntei ao Pablo e a Jenniffer, desistentes do 1º e 3º dia, que também iriam tomar o trem.
Eu aproveitei o tempo livre e a hidrelétrica que estava ali do lado para trabalhar. Acabei fazendo uma visita não planejada a hidrelétrica de Machu Picchu, onde foi muito bem recebido pelo engenheiro Ronald e conheci a interessante usina, a única que conheço que tem desenhos incas pintados nas tampas das turbinas.
As 4 da tarde, pegamos o trem, que faz um trajeto delicioso pelo meio das montanhas e nos leva a aconchegante cidade de Aguas Calientes (este trem é o que ficou totalmente bloqueado com as enchurradas do final de janeiro de 2010).
Cheguei junto ao grupo e fui entregue devidamente ao albergue, onde voltaria a encontrar a Ana e a Betinha, após 4 dias de separação. Quando cheguei, elas estavam nas termas de Aguas Calientes, e para não perder o compromisso com a janta e os demais colegas de caminhada, tive que subir um trajeto de 20 minutos em 8, banhar-se ultra rapidamente nas termas que mais parecia o piscinão de Ramos, e voltar para a Plaza de Armas. Devo ter estabelecido um novo recorde mundial para o trajeto.
A noite foi uma delícia. Tomamos algumas cervejas, cantamos e falamos muita besteira. No entanto, como tinhamos que acordar as 3:30 da manhã para a subida a pé a Machu Picchu, fomos dormir cedo. O dia seguinte coroaria uma das viagens mais emocionantes que fiz em minha vida, e se somaria as memórias inesquecíveis de uma existência.
sábado, 23 de janeiro de 2010
Expedição: Caminhada Salkantay - Dia 3 - 06 de janeiro de 2010
Havia também Martin e Julio que eram engraçadíssimos com seu sarcasmo e ironia afiados. Estavam sempre falando de que aquilo que era férias, caminhando na chuva e no vento no meio do nada para dormir no mato encharcado em meio aos mosquitos. A gente ria até... O grupo era ótimo e estava sendo um prazer compartilhar a aventura com todos eles. De fato, estavamos nos tornando uma família!
Terceiro dia, nos embrenharíamos na mata, seria uma caminhada meio esquisita, no começo nos enfiaríamos num mangue, e para minha infelicidade, a minha bota de tanto ficar presa na lama, abriu no solado e começou a encharcar de água e areia. O resultado disso seria desastroso ao final do dia.
O caminho começava no meio da mata, num barro que dava dó de ver. Pra variar, eram subidas e descidas. Chegariamos no final da trilha a uns 1800 metros, mas para isto desceriamos a 2.600, subiriamos a 2.900 mts numa outra caminhadinha de 17 kms básicos até o final do dia.
A brasileira Jennifer estava com o pé totalmente inchado e seguiu o trajeto de cavalo. O restante de nós estavamos relativamente inteiros. Quando chegamos a segunda metade da manhã, os 3 holandeses (Geron, Sam & Sofie) começaram a reclamar do cansaço e da chuva, e gostaria de pegar um ônibus para a segunda metade do dia. Assim, o grupo se dividiria entre os 3 + Jennifer e os demais.
O grupo que iria a pé (eu incluído) começou a seguir mais rápido, enquanto o que iria de ônibus estavam descendo com mais calma. Mal sabiam eles que o final desta história não seria um final feliz.
A segunda metade do dia consistia em uma descida brusca e depois a caminhada por uma parte mais plana, uma estrada de terra. O ponto é que com as chuvas fortes, boa parte da estrada estava interrompida por deslizamentos. Assim: a opção de voltar de ônibus não existia!!! E pior, quem havia tomado a decisão de ir de ônibus ainda não sabia que esta opção não existia, estavam muito atrás no trajeto.
Os que optaram em seguir a pé desta forma acabaram sendo privilegiados, já que neste dia o almoço só seria servido praticamente no final da caminhada. Os que vieram no segundo grupo acabaram seguindo por um caminho mais longo mas mais plano e fácil, no entanto diveram que caminhar da mesma forma!
A caminhada neste dia deveria ser uma delícia, se não fosse as bolhas que começaram a se formar em meu pé devido a meia molhada e cheia de areia. Na segunda metade do dia, não havia quase nem uma parte da sola do meu pé que não estivesse devidamente inflada com bolhas. A caminhada estava sendo um exercício de tolerância a dor.
Mesmo assim, o passeio teve seus pontos altos. Entre as melhores partes estava a de ter que subir e descer as montanhas de pedras e terra dos deslizamentos que bloqueavam a estrada e o nosso atravessar do rio Lucmabamba por um pequeno carrinho que estava suspenso em uma tirolesa! Show de bola!
Não é de se estranhar que fiquei por último, tive que diminuir bastante o meu ritmo no final e devo ter chego quase 30 minutos depois do meu grupo, praticamente juntos com o segundo grupo que vieram pelo caminho mais plano.
Mas cheguei!!! E como sempre, após conseguir tirar as botas, meu humor melhorou consideravelmente! Estava feliz de ter completado o terceiro dia, mesmo com todas as dificuldades. A minha bota dei de presente para o guia, e como o 4o dia era mais tranquilo, teria que fazê-lo de papete.
Depois de almoçarmos as 5 da tarde, com direito a cerveja gelada, a nossa caminhada chegaria ao fim para tomarmos um ônibus por 40 minutos e seguirmos para o nosso acampamento no vilarejo de Santa Teresa. Aqui o acampamento seria montado dentro de uma laje de alvenaria, voltariamos a ter banheiro com privada de porcelana e papel higiênico, e o melhor de tudo, depois de 3 dias, voltariamos a tomar banho, e não num lugar qualquer, nos banhariamos no paraíso.
As 8 da noite seguimos para as termas de Santa Teresa, um lugar lindíssimo, com águas vulcânicas e piscinas naturais cujas temperaturas variavam de 35 a 40 oC, uma delícia. Depois de caminhar por tanto tempo e ficar tanto tempo mal cheiroso e sujo, me senti num pedacinho do céu. O grupo estava radiante e as risadas e os sorrisos brotavam à toa.
No paraíso: as Termas de Santa Teresa.
Dormir depois de um banho gostoso daquele foi questão de segundos, e eu estava completando meu terceiro dia de caminhada em uma felicidade sem fim!!!
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
Expedição: Caminhada Salkantay - Dia 2 - 05 de janeiro de 2010
Esta convicção ficou reforçada após o poderoso café da manhã com mate de coca. Me sentia novo! A única precaução que tive foi a de reduzir ao máximo a bagagem. Assim, para garantir o trajeto, fui radical, deixei praticamente a mala toda com os cavalos (tirei mais uma vez proveito da desistência dos demais para armazenar mais peso que poderia) e fiquei apenas com o essencial em uma mala/pochete que sempre trago comigo. Acho que esta foi a decisão mais sábia que já fiz em toda a viagem.
Neste dia, sairiamos dos nossos atuais 3.900 mts em Soraypampa rumo aos 4.600 mts, e depois voltariamos aos 3.800 mts, em 17 kilometros de caminhada até Colpapampa.
A manhã do segundo dia é só subida, mas uma subida com um visual ótimo. Estavamos ao pé da coordilheira e nos acompanhavam por toda a subida a vista do nevado Umantay e do majestoso Apu Salkantay. Assim, a cada novo passo, nos aproximávamos destes dois gigantes.
Passamos por algumas pastagens, mas a subida é sobretudo ingreme e pedregosa. Por algumas vezes tinha a impressão que caminhava para um paredão sem saída de tão ingreme que eram algumas partes do trajeto.
De qualquer maneira, antes que eu pudesse perceber, chegaríamos no ponto mais alto da nossa caminhado, Salto Salkantay, nos seus 4.600 mts. Caminhar até lugares como este é equivalente ao bom sexo com orgasmo prolongado. Mesmo tendo caminhado a manhã inteira, me sentia ótimo, revigorado, e capaz de escalar o Everest.
Infelizmente, naquela altura, o tempo estava nublado, afinal de contas estavamos nas núvens, e não foi possivel avistar de perto os dois gigantes, Umantay e Apu Sankantay da mesma forma que o avistamos de longe. Mesmo assim, o ponto alto de nossa travessia era marcado por pequenas e diversas pilhas de pedra que cada um dos viajantes fazia ao chegar lá. Tratei de fazer a minha, tirar várias fotos e dar risadas sem fim. O grupo estava com um humor excelente naquele momento. Na sequência ainda paramos num laguinho nas alturas para comer e ver a paisagem.
A descida foi mais tranquila para mim, mas nem tanto para os demais. A Jennifer começou a ter problemas com o calçado alugado dela, e seus pés começaram a encher de bolhas e a inchar, o que fez a segunda metade da caminhada dela um inferno. Depois iria aprender por experiencia própria que bons calçados e meias secas são fundamentais para este tipo de passeio.
A segunda metade da tarde do segundo dia era marcada por uma vegetação crescente e bonita, e uma chuva forte e insistente. Chegamos encharcados e cansados no acampamento. E parece que Deus deu uma brecha apenas para que pudéssemos montar as barracas sem chuva, pois mais a noite ela voltaria a nos incomodar.
O segundo acampamento era quase como se dormir ao relento. O banheiro era um buraco no chão com 3 proteções a meia altura laterais, ou seja, não tinha teto e a parte do dorso ficava sempre descoberta. E era a segunda noite que passavamos sem duchas, e desta forma, sem banho!
Para ajudar, estavamos numa barranqueira que tinhamos a impressão que se viesse uma enxurrada, nenhum de nós estaríamos por lá o dia seguinte.
Mesmo assim, o jantar, apesar da chuva, foi bastante animado!
A noite foi um pouco incomoda. Em várias barracas houve infiltrações de água, a minha inclusive. O meu saco de dormir absorveu boa parte da umidade, e tive que tirar as meias molhadas no meio da madrugada. Fora isto, sobrevivi! E estaria pronto para o 3º dia.
Expedição: Caminhada Salkantay - Dia 1 - 04 de janeiro de 2010
Na primeira parada, a recomendação de levar folhas de coca para mascar e de diminuir o tamanho da mala. Cada pessoa poderia levar até 5 quilos junto aos cavalos. Quase que ignorei a recomendações, mas por insistência (para a minha sorte) diminui um pouco o peso da mala, o que foi vital para eu conseguir finalizar o primeiro dia de trajeto. Minha mala deve ter ficado com 8 a 10 Kgs depois de liberado um pouco de espaço.
O começo da caminhada começa em um vilarejo tranquilo, numa estradinha de terra. No primeiro dia seriam 19 kilómetros e 1000 metros de subida, já que saiamos de um local a 2.900 metros de altitude e passariamos a noite em 3.900 metros. O que percebi mais tarde, para o meu desespero (rsrs), é que o trajeto teria alguns altos e baixos, e teria que subir muito mais do que os 1.000 metros esperados.
Na parada para o almoço a primeira baixa: Pablo, um argentino de 44 anos, motoqueiro e gigante, com mais d 1,90m de altura, estava branco como cera. Ele tinha acabado de chegar a Cuzco e não tinha se habitualizado com a altitude, e mesmo sem estar carregando bagagem nenhuma, não aguentou o tranco.
Na primeira parada, a 3.450 metros de altura, lá vai o guia chamar o taxi para buscar o grandalhão. Depois fiquei sabendo que aquele ponto era o ponto sem retorno. Dali em diante, os novos desistentes (haveriam mais) teriam que voltar o trajeto a pé.
Eu estava exausto, a mala parecia que tinha uns 200 kgs, e cada vez que eu parava pra descansar era como se renascesse das cinzas. A vista era coisa de tirar o folego, em todos os sentidos. Montanhas lindas e precipícios que nos cercavam faziam toda caminhada valer a pena.
A segunda metade da caminhada não foi tão boa assim. Eu já estava chegando ao final das minhas forças e ainda tinha metade do trajeto a fazer. Os dois americanos de Boston, marido e mulher, estavam ficando bem pra trás do restante do grupo.
Depois do almoço ela teve que subir de cavalo. A impressão que tive é que os dois estavam esperando uma caminhada bem mais tranquila.
Uma coisa que fui saber depois é que o tempo na cordilheira é bastante instável sendo difícil prever suas condições, mesmo para as próximas horas. Então, de uma tarde bem bonita e ensolarada passamos para uma tarde nublada e enfim, para a nossa infelicidade, uma tarde chuvosa.
Eu havia comprado um poncho/capa de chuva para ocasiões como esta, já que a minha jaqueta impermeável corta vento não era tão recomendável para situações como esta, mas como eu tinha uma mala enorme e cheia de coisas, não encontrei a minha capa de chuva. Assim, pra ajudar a minha exaustão de primeiro dia, comecei a ficar molhado e com frio
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Se você já fez exército deve ter tido alguma sensação parecida. Algo como o segundo dia do acampamento BIVAQUE, onde você está exausto com fome e com frio. No meu caso, não estava com fome, mas estava exausto, com frio, molhado e sem ar. Caminhar acima dos 3.600 metros de altura com o nariz escorrendo não é nada fácil para os pulmões.
Estava a ponto de entregar as pontas. Já não estava sentindo mais as pontas dos dedos devido ao frio e a má circulação sanguinea por causa das malas pesadas. Quando tudo ia de mal a pior, eis que chega a notícia que o abrigo estava logo ali, e com ele o final da caminhada do primeiro dia.
A visão do final da caminhada funcionou pra mim como um tônico revigorante, e fui capaz de percorrer os 15 minutos que me separavam do abrigo com uma esperança renovada.
A sensação de chegar naquele primeiro dia é indescritível. Sublime. Fantástica. Mesmo assim, naquele exato momento me questionava se seria mais um dos desistentes. A impressão nítida que tinha é que não conseguiria fazer o segundo dia, e já estava cogitando seriamente o uso dos cavalos.
O abrigo era bacana, eram 8 tendas dispostas para os 16 participantes dentro de um barracão de madeira que nos deixavam protegidos do vento e da chuva. Com a baixa do Pablo, acabei ficando com uma tenda só pra mim. E para a alegria de todos, já havia descoberto no almoço que os banheiros dali pra frente seria fossas naturais.
Os americanos chegaram bem depois de nós, ela de cavalo e ele a pé. Mais tarde eles nós comunicariam também que deixariam o grupo e voltariam o trajeto feito neste dia no dia seguinte.
Outros grupos faziam também a mesma trilha nossa, a Salkantay, e um grupo de 5 pessoas, 3 brasileiros e 2 argentinos nos preocupavam, pois o tempo passava e eles não chegavam ao abrigo em Soraypampa. Muito mais tarde fomos descobrir que eles ficaram presos entre dois rios devido a chuva que aumentou a noite e tiveram que passar uma noite digna de discovery chanel molhados, ilhados e ao relento. Eles também iriam com isso abandonar o trajeto e seguir direto para Santa Teresa nosso destino do dia 3.
Vale o relato que neste dia também experimentei mascar folhas de coca, como os nativos. Pega-se as folhas, coloca-se, devagar, elas, pouco a pouco em uma das bochechas e se masca lentamente como um chiclete. Já havia tomado chá de coca em várias outras ocasiões, mas esta foi a primeira vez que mascava as folhas diretamente. De fato, mascar as folhas dá aquela sensação de dormência na boca, como uma anestesia. E confesso que não achei agradável ficar com aquele monte de folhas na boca, assim, para os outros dias, preferi o mate, ao invés das folhas diretamente.